Trabalha-se em algumas empresas com sede europeia 12 horas e 15 minutos por dia nas áreas de manufactura para diminuir as diferenças em termos de custos. A Qimonda, ex-Infineon Technologies, fabricante de memórias DRAM, que tem uma unidade em franca expansão em Vila do Conde com cerca de 1700 trabalhadores, é uma dessas empresas.

Nos últimos anos, juntamente com o fenómeno globalização e com a total abertura do mercado low cost asiático, a gestão neoliberal das empresas tem como principal meta a competitividade e a ganância do lucro sem olhar a meios. As leis que protegem os trabalhadores são muitas vezes esquecidas.
No 1º de Maio de 1886, centenas de milhar de trabalhadores americanos, manifestavam-se pacificamente em Chicago exigindo a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Estes trabalhadores deram o mote para uma luta internacional a favor da diminuição da jornada de trabalho.
Estamos em 2007, já passaram 121 anos, e hoje assiste-se ao retrocesso do proveito dessa luta. Trabalha-se em algumas empresas com sede europeia 12 horas e 15 minutos por dia nas áreas de manufactura para diminuir as diferenças em termos de custos.
A Qimonda, ex-Infineon Technologies, fabricante de memórias DRAM, que tem uma unidade em franca expansão em Vila do Conde com cerca de 1700 trabalhadores, é uma dessas empresas. É uma empresa que ao longo do tempo tem vindo a crescer dentro do mercado de semicondutores a nível mundial e que tem crescido no ranking das exportações no nosso país, sendo neste momento a segunda empresa que mais exporta abaixo da Galp Energia.
Em Março, o Estado português pela mão de José Sócrates, assinou um protocolo com a empresa de 70 milhões de euros para o aumento da tecnologia de ponta e para a criação de 140 postos de trabalho. Um mês mais tarde, a empresa noticia o despedimento colectivo de 66 trabalhadores efectivos com a justificação da extinção dos seus postos de trabalho e de uma remodelação interna iniciada em Junho do ano passado, consumando a deslocalização de uma área produtiva (assemblagem e teste de módulos de memória) para a Malásia. Não é compreensível este despedimento após esta ajuda por parte do Governo português!
A SAGA DAS 12 HORAS E 15 MINUTOS
Para melhor entender a razão dos despedimentos temos que viajar no tempo até ao último trimestre do ano de 2005 onde efectivamente a saga começou a ganhar vida, pois cerca de 40 pessoas participaram num projecto para um novo modelo de horário numa área nova, com relativamente pouco trabalho. Os resultados foram excelentes, segundo a empresa, e com isto, resolveu apresentar as vantagens deste horário de 12 horas e 15 minutos aos restantes trabalhadores das outras áreas de manufactura. Apresentou ao mesmo tempo um horário de 8 horas e 15 minutos, com uma grande carga horária nos meses de verão e sem os trabalhadores poderem gozar o período de férias como gostariam, existindo a obrigatoriedade de gozarem as férias com toda a sua equipa de trabalho, e este, escolhido pela empresa. Mais tarde, quis auscultar os trabalhadores sob a forma de um inquérito e reuniões individuais com a supervisão para assinarem uma espécie de contrato, com uma pressão psicológica enorme. Metade dos trabalhadores da manufactura passaram para o horário alargado (áreas de teste) no final de Abril. Mantiveram-se as áreas de componentes (que mudaria de horário imperativamente no final do ano de 2006) e a área de módulos no horário de 8 horas, e quem não aceitou o novo horário foi trabalhar para esta última. Portanto, esta área funcionou como uma concentração de trabalhadores que apenas queriam trabalhar 8 horas.
O DESPEDIMENTO COLECTIVO
Com a remodelação interna à vista, e com a produção da área a abrandar, os trabalhadores precários foram os primeiros a abandonar a empresa, ficando apenas 66 pessoas efectivas. O tempo foi passando, e chegamos a Março, e ao encerramento desta área. As pessoas não aceitaram o horário de 12 horas, e a empresa abusivamente decidiu aplicar-lhes um despedimento colectivo, sob a forma de extinção do seu posto de trabalho.
OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DAS 12 HORAS E 15 MINUTOS
No plano da saúde física e mental estão-se a agravar os efeitos da grande rotatividade. Os sucessivos "jet lags" implicam andar com os sonos trocados nas folgas e andar cansado quando se trabalha. Este fenómeno provoca irritabilidade e variações de humor, que trazem problemas no seio familiar e nas equipas de trabalho. As mulheres casadas e com filhos têm uma dupla jornada de trabalho, pois em casa têm de desempenhar o seu papel, muitas delas sem ajuda do cônjuge. Assim, quantos casamentos irão resistir? Os casais que trabalham no mesmo horário, com filhos têm que os deixar metade do ano com os avós ou outros familiares. Muitos já optaram por praticarem horários diferentes para a saúde das crianças não ficar afectada pela constante agitação. No plano monetário, todos ficam a perder. Em 8 horas e 15 minutos a empresa pagava a sua totalidade em 12 horas e 15 minutos a empresa paga menos uma hora.
ABANDONO
Com esta situação existem muitas pessoas a procurar outro emprego porque não aguentam trabalhar e viver com estas condições. Penso que é lamentável quando uma empresa muito rica, quer colocar os trabalhadores no mesmo saco, e comparar os trabalhadores portugueses aos que infelizmente trabalham por uma "tigela de arroz por dia". Cabe ao governo desincentivar este tipo de conduta violenta para com os trabalhadores, e não tarda muito, outras empresas obrigarem os seus trabalhadores a laborarem no mesmo sistema de turnos rotativos.
Entretanto o Bloco de Esquerda apresentou vários requerimentos ao governo e Inspecção de Trabalho e Francisco Louçã denunciou no parlamento esta situação. A denúncia do Bloco teve cobertura noticiosa e amplo apoio dos trabalhadores.